segunda-feira, 26 de maio de 2014

TADINHOS DE NÓS



O assunto de hoje é protesto, o texto de hoje é um protesto. Um protesto contra os protestos.

Eu tenho 34 anos e algumas percepções foram se cristalizando em mim ao longo desse tempo a respeito do país onde vivemos.

- O país onde moro é muito rico e tem potencial.
- A riqueza é esbanjada, mal repartida.
- A justiça é lenta e cheia de brechas que são acionadas a favor dos que podem pagar.
- A falta de cultura nos impede de avançar, mais que qualquer outra coisa.
- Quando algo passa a "funcionar" permanentemente do jeito errado, então não funciona mais.

Estas percepções, não são somente minhas, e já passa da hora de que algo seja feito, mas sinceramente não penso que a direção atual seja a mais correta. É 26 de Maio  e acompanho na televisão a notícia sobre a apresentação da seleção brasileira de futebol, que ao desembarcar no aeroporto, viu protestos de professores reclamando dos jogadores pelo fato de serem mal pagos. Que lhes parece a situação? E ainda, segundo vários meios de comunicação, é muito provável que durante a copa do mundo, a situação se agrave, e ocorram inúmeros protestos em todas as regiões do Brasil. Infelizmente, vejo a situação com um que de vergonha e indignação. Explico-me:

Imagine que você contrata uma equipe de "profissionais" para organizar um evento em sua casa.
As expectativas são as melhores possíveis, mas algo sai errado e as vésperas do evento, tudo custou muito mais do que deveria, coisas prometidas sequer foram começadas, enfim você está decepcionado. Todavia, as pessoas marcaram o compromisso na agenda e estão vindo animadas, de todos os cantos, participar desta festa. Pergunto:

a) A responsabilidade por um sistema que protege políticos corruptos é dos convidados?
b) A responsabilidade por não priorizar setores como educação, segurança, saúde é dos convidados?
c) As pessoas que vem ao evento, podem fazer algo para mudar a situação por você, ali, naquele momento?
d) Em relação à estas pessoas, qual seria a sua atitude mais correta? E se você estivesse no lugar deles?
e) O que temos a ganhar, mostrando ao mundo que não somos capazes de resolver nossos problemas?

Não sou contra o ato de protestar, acredito piamente que a oposição de forças é o que nos move. Aliás isso é uma lei universal da física, sem atrito não há movimento. O que me entristece é a forma como se resolve fazer certos protestos.

Os ingressos já foram vendidos, as cotas de televisão contratadas, os patrocínios preenchidos, o merchandising já está todo produzido  e sendo comercializado a vários meses. Enfim, o grosso do dinheiro que envolve o evento, já está nas mãos de quem deveria estar e a muito tempo. Agora só falta a bola rolar e o povo assistir.

Mas eis que um filho teu não foge a luta! E proclamam-se levantes e mais levantes durante os dias de jogos, e projetam-se conflitos, desordem, caos, insegurança.. enquanto aos olhos das mídias de todo o planeta, o povo brasileiro tenta passar a imagem de que cansou, de que está agindo pela mudança.

Mas o que Harold Nightingale, de 45 anos, estofador de moveis vitorianos em Sussex na Inglaterra, que juntou suas economias pra trazer o filho ver a copa, vai poder fazer pelo pobre Tadeu, que nos últimos 5 séculos foi esquecido nas salas de aula, nas paredes de hospitais, nas vias de metro, nos engarrafamentos, nas cadeias, nos carnês de impostos.

Sim, você leu corretamente, tadinho do Tadeu.. ele foi esquecido, ninguém cuidou dele.. tadinhos de todos nós e deveras, a culpa só pode ser do Senhor Harold, que vem aqui e gasta suas libras de forma esnobe em nossa terra. Vamos fazer bastante barulho, agora que o senhor Harold está aqui e talvez ele nos jogue alguns shillings, ou então se assuste e nunca mais volte para nos lembrar de nossas misérias.

Apoio os protestos, apoio os seus motivos. Concordo com a grande maioria das demandas que estão em pauta. Todavia, sou contra o momento e a forma com que estes protestos tendem a acontecer (haja visto episódios recentes de desordem e confronto) Tenho vergonha que como povo, nós permitamos que outros sintam pena de nós. Tenho vergonha da situação em que nos encontramos enquanto país. Tenho vergonha daqueles que vão usar a mídia para se promover num ano eleitoral como arautos de uma nova realidade, num sistema falido e corrompido, porque duvido que durante as eleições e depois delas,todos se abracem clamando por melhorias. Tenho vergonha que aqueles que nos visitarem possam pensar que além de não ter tudo aquilo que me falta, eu possa ter perdido a educação e a decência.

Como dizia minha mãe, roupa suja se lava em casa e nunca, jamais;  batendo boca na frente das visitas.



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